segunda-feira, 9 de maio de 2011


 o guardião das estradas e dos viajantes

“Divindade complexa, com múltiplos atributos e funções, Hermes parece ter sido, de início, um deus agrário, protetor dos pastores nômades indo-europeus e dos rebanhos...


Os gregos, no entanto, ampliaram-lhe grandemente as funções, e Hermes, por ter furtado o rebanho de Apolo, se tornou o símbolo de tudo quanto implica astúcia, ardil e trapaça: é um verdadeiro trickster, um trapaceiro, um velhaco, companheiro, amigo e protetor dos comerciantes e dos ladrões...


Além do mais, se qualquer oportunidade é uma dádiva do deus, é porque ele gosta de misturar-se aos homens, tornando-se, destarte, juntamente com Dioniso, o menos olímpico dos imortais.


Protetor dos viajantes, é o deus das estradas. Guardião dos caminhos, cada transeunte lançava uma pedra, formando um “hermaion”, isto é, literalmente, “lucro inesperado, descoberta feliz” proporcionados por Hermes: assim, para se agradecerem ou para se obterem bons lucros, formavam-se, em honra do deus, verdadeiros montes de pedra à beira da estrada.
Diga-se logo que uma pedra lançada sobre um monte de outras pedras simboliza a união do crente com o deus ao qual as mesmas pedras são consagradas, pois que na pedra está a força, a perpetuidade e a presença do divino...
Para os gregos, todavia, Hermes regia as estradas, porque andava com incrível velocidade, fato de usar sandálias de ouro, e, se não se perdia na noite, era porque, “dominando as trevas”, conhecia perfeitamente o roteiro. Com a rapidez que lhe emprestavam suas sandálias divinas e com o domínio dos três níveis, tornou-se o mensageiro predileto dos deuses, sobretudo de seu pai Zeus e do casal ctônio, Hades e Perséfone.


De outro lado, conhecedor dos caminhos e de suas encruzilhadas, não se perdendo nas trevas e sobretudo podendo circular livremente nos três níveis, o filho de Maia acabou por se tornar um deus psicopompo, quer dizer, um condutor de almas, tanto no nível telúrico para o ctônio quanto deste para aquele...


Para Mircea Eliade são as faculdades “espirituais” do deus psicopompo que lhe explicam as relações com as almas: “Pois a sua astúcia e a sua inteligência prática, a sua inventibilidade..., o seu poder de tornar-se invisível e de viajar por toda a parte em um piscar de olhos, já anunciam os prestígios da sabedoria, principalmente o domínio das ciências ocultas, que se tornarão mais tarde, na época helenística, as qualidades específicas desse deus”.

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